Nova linha de crédito imobiliário deve gerar efeito em cadeia, aumentando a demanda por imóveis e estimulando a geração de empregos

O anúncio de mais uma linha de financiamento imobiliário feito pela Caixa Econômica Federal (CEF) ampliou as chances de aquisição da casa própria dos brasileiros. Além disso, especialistas preveem um aquecimento na construção civil, um dos setores que mais geram empregos no país.

O modelo será uma segunda linha de créditos oferecida pela Caixa e terá juros que vão de 2,95% a 4,95% ao ano, mais a inflação oficial (IPCA). O financiamento pode ser usado para financiar até 80% do valor de imóveis novos e usados, tem validade para novos contratos e dá prazo de até 360 meses (30 anos).

A notícia foi comemorada pelo presidente do Sindicato da Habitação de Mato Grosso (Secovi), Marco Sérgio Pessoz. Ele acredita que os projetos que estavam guardados devem ser desengavetados, pois a linha de crédito permite a geração de parcelas mais baixas do que as praticadas hoje no mercado.

“Essa é uma excelente iniciativa, porque hoje você trabalha com uma taxa de juros de 8%, 8,5% mais TR. Agora, com uma parcela menor, isso com certeza vai incentivar quem estava na dúvida de comprar ou não um imóvel. Em algumas situações, essa parcela pode ficar próxima ao valor do aluguel e, ao invés de pagar um aluguel, é melhor pagar as prestações do imóvel próprio”, avalia.

Durante a apresentação do financiamento, o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, fez uma simulação comparando essa segunda linha de crédito com a já praticada.  No modelo velho – com valor corrigido pela TR –, um imóvel avaliado em R$ 300 mil, com financiamento de 80% do valor (R$ 240 mil), durante 30 anos resultaria em parcelas de R$ 3.168. Já no modelo novo – corrigido pelo IPCA –, as parcelas ficam em R$ 2.050. Os valores variam conforme o perfil do cliente e relacionamento com o banco.

As parcelas mais atrativas devem ser avaliadas com cautela pelo tomador de crédito, pois ele pode trazer riscos por ser variável. Isso porque a associação da inflação, que é variável, a prazos longos pode trazer surpresas.

“Esse é um fator que precisa ser observado. A sugestão é não fazer [financiamento] a um prazo muito longo, mas a uns dez anos, por exemplo. Porém, como é uma linha nova, ainda será discutida e deve existir algumas proteções, como há hoje nas já praticadas, é o que chamamos de gorduras embutidas por causa da insegurança”, aconselha Pessoz.

Apesar de sugerir prudência na hora da aquisição do crédito, Marco Sérgio acredita que a inflação deve ficar estável nos próximos anos, interferindo pouco no valor das parcelas.

“No passado tivemos casos de oscilação maior da inflação, mas o governo, de forma rápida, interferiu para manter o controle da economia. Eu vejo que o país atingiu a maturidade da moeda, pela própria reforma da Previdência e a preocupação de melhora da economia e fazê-la voltar a crescer com controle. Isso sinaliza a preocupação de manter a estabilidade da moeda”.

VITÓRIA DUPLA

O cenário é de aquecimento no setor da construção civil. Com juros mais acessíveis, quem deseja comprar um imóvel deve colocar em prática os planos para realizá-lo e fazer aumentar a demanda por imóveis.

O diretor de obras do Sindicato das Indústrias da Construção do Estado de Mato Grosso (Sinduscon-MT), Fausto Echer, explica o efeito em cadeia do novo modelo de financiamento imobiliário.

“Essa nova linha baseada na inflação ficou muito atrativa para o cliente, quando olhamos as taxas atuais. Traz uma realidade de uma redução de pelo menos 30% no valor das parcelas. A caixa se antecipou e fará com que os bancos façam o mesmo, senão ficarão para trás. Isso vai fomentar o setor. Tem gente de médio padrão que postergou e deve comprar agora. É muito atrativo e faz com que o setor tenha um crescimento”, comemora Echer.

A retomada do crescimento da construção civil é vista com otimismo pelo presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon), Evaldo Silva, que ressalta a possibilidade de geração de empregos, já que o setor é uma das bases da economia brasileira.

“Finalmente o governo federal abriu uma linha de incentivo à produção que vai gerar emprego e renda, pois antes de comprar tenho que ter um emprego. Agora ele está lançando uma iniciativa para gerar renda e movimentar a construção civil, que é uma das bases da economia”, avalia Silva.

Educação financeira é a chave do sucesso

Diante das novas possibilidades de crédito, o economista Evaldo Silva chama a atenção para a vantagem de poupar para pagar à vista, conseguindo ainda mais descontos na compra do novo imóvel.

“Se você poupar poderá comprar à vista e tem o diferencial de comprar parcelado: poder de barganha. Quando você compra a vista pode ter descontos e na loja vai ter, porque todo empresário precisa de caixa e o que ele vende no cartão ele paga taxa”.
Silva defende que a educação financeira deve ser praticada, para evitar gastos excessivos e pagar mais caro na aquisição de qualquer bem.

“Antes de mais nada é preciso mudar a cultura de gastar mais do que ganha. O consumidor tem que ter muito cuidado com o que vai gastar, ter cuidado com o seu dinheiro. No dia a dia, se ganho mil e gasto mil e um, eu fico devendo um. E se isso for no cartão de crédito, ainda vai se tornar mais de mil e um”.

Já entre financiar ou comprar à vista, o economista explica que pagar à vista deve ser a prática, mas faz uma ressalva para a aquisição de bens como imóveis, que valem a pena financiar. Silva também sugere que os gastadores se espelhem na dona de casa.

“A sacada é poupar, mas as pessoas de uma maneira geral estão acostumadas a não fazer poupança e financiar tudo. O financiamento é bom fazer para casa própria. Melhor que fazer aluguel. A melhor administradora do Brasil é a dona de casa: quando a carne vermelha está cara, ela compra frango, quando o frango está caro, ela compra ovo. Ela atende as necessidades substituindo por produtos que cabem no bolso”.

Fonte:23/08/2019 05h43 https://oestadodematogrosso.com.br